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Panamérica Transatlântica é um projeto artístico coletivo que se manifesta sob a forma de bloco de carnaval. Sua estreia se deu em março de 2019 na praça da Harmonia, Gamboa, RJ, convocando artistas e não-artistas a se mobilizarem diante do momento político alarmante. Um chamado para estreitar laços e afirmar a invenção e a alegria através de uma expressão cultural comum: a criação e realização de um desfile carnavalesco. Ao produzir uma intervenção artística no formato de bloco de carnaval de rua, o coletivo compreende que a ação se estende além dos dias de Carnaval, e que a alegria partilhada pode fazer-se ato político. A festa popular vivida como potência política, ação criativa e social, seguindo uma proposta estética coletiva e original criada a cada ano, a cada enredo. Panamérica Transatlântica introduz no desfile carnavalesco práticas da arte contemporânea, traduzindo conceitos e estéticas em intervenção urbana. No barracão-ateliê, o processo de criação e a convivência são tão importantes quanto o resultado final, que busca referência nas tradições do Carnaval carioca, a partir do legado de grandes artistas carnavalescos, na linhagem que vai de Fernando Pamplona a Leandro Vieira, passando por Rosa Magalhães e pela genialidade de Joãozinho Trinta. Assim como de tantos outros mestres e mestras, passistas, ritmistas, sambistas e foliões. As ações do bloco se baseiam em um princípio de ação estético-política guiado por dois eixos: • A afirmação da democracia e a luta contra o fascismo e a intolerância, por meio da ocupação do espaço público, celebrando a diversidade e a inclusão. • A interação com seu território de ação, os bairros da Gamboa e Saúde, área seminal para a criação do samba, onde desfila desde 2019; e com a Glória, bairro no qual se localiza o barracão do bloco, abrigado pelo Tropigalpão, parceiro do projeto desde 2023. Outra linha de ação importante da Panamérica Transatlântica é a transposição de fronteiras. A associação que criou o projeto, La Centrale 22, com sede em Paris, é dirigida pelo brasileiro Dado Amaral e pela chilena Vivi Méndez. Pablo Schalscha, também diretor artístico do projeto, vive no Chile, e Marta Rodrigues é a diretora residente no Brasil. A cada ano, Panamérica Transatlântica oferece uma residência artística na qual artistas de diferentes nacionalidades são convidados a integrar o processo de criação e confecção de seu carnaval, trabalhando por 4 semanas no barracão- atelier e participando do desfile do bloco. Até o presente, artistas do Chile, França, Argentina, Espanha e Cazaquistão fizeram parte dessa residência artístico- carnavalesca, trabalhando ao lado de artistas contemporâneos da cena carioca. O aspecto transatlântico do coletivo se expressa através do intercâmbio cultural entre os participantes, mas também por praticar a cultura do carnaval carioca de rua em outros países. O desfile do bloco em Paris, na Fête de la Musique de 2019, é exemplo dessas iniciativas, assim como a concepção e produção de figurinos e adereços para a “Sambópera” Woy, apresentada em Köln, Alemanha, com a realização de workshops e exposição das peças na Akademie der Künste der Welt (ADKW), em 2023.